domingo, 12 de junho de 2016

MICROCEFALIA O DESAFIO QUE AS MÃES ENFRENTAM 2016


Na maior parte das vezes, jornalistas não podem acompanhar as sessões de terapia que as mães tem que enfrentar. E esses profissionais são muitos em Pernambuco. Primeiro estado a alertar para o crescimento de casos de microcefalia e atualmente o que lidera as notificações e confirmações da malformação congênita, Pernambuco atraiu repórteres do mundo todo, ávidos por fotos e histórias das famílias que enfrentam o vírus Zika.

Mas não ali. A sala de terapia é à prova da mídia. É um espaço onde as mães podem falar umas com as outras mães e para profissionais de saúde. Envolvidas em uma rotina de cuidados, viagens em busca de consultas, sessões de estímulo precoce dos bebês e dramas pessoais, a terapia é o momento específico para que reflitam e se exponham.

Mães na terapia
Mães de crianças com microcefalia fazem terapia na Fundação Altino VenturaSumais Villela/Agência Brasil
Várias instituições que oferecem o tratamento às crianças com microcefalia dispõem do serviço para as mães, e todas impedem a entrada dos jornalistas. Uma delas é a Fundação Altino Ventura (FAV), entidade sem fins lucrativos que recebe parte dos pacientes do SUS.

Em uma manhã movimentada na instituição, no entanto, foi aberta uma exceção e a Agência Brasil acompanhou uma sessão.

O dia estava reservado para uma dinâmica, jogos e atividades lúdicas com mensagens para reflexão. Quem conduzia o grupo de 12 famílias – representada pelas mães, em sua maioria – era a psicóloga Alzeni Gomes, coordenadora de terapia ocupacional da FAV. “A gente objetiva muito trabalhar demandas trazidas por elas. Também tem nosso trabalho com dinâmicas, dificuldades que elas têm relatado, filmes motivacionais”, explicou a profissional, antes de começar a atividade sobre coragem de encarar os desafios desconhecidos da vida.

Tema que o grupo não sabia. Tudo começou com uma caixinha fechada. A tarefa era simples: passar de mão em mão a caixa até que a coordenadora, que olhos fechados, mandasse parar. Quem ficasse com o objeto deveria escolher entre abrir a caixa e encarar a tarefa prevista, ou se recusar e recomeçar a brincadeira.

“Eu quero abrir”, disse uma das participantes. “Por quê?”, provocou a psicóloga. “Sou curiosa”. E aí veio o gancho. “Mas aí tem um desafio. Como é, para você, enfrentar um desafio?”, questionou Alzeni Gomes. Aos poucos, as mães começaram a levar o desafia para a realidade. “Acho que sei o que ela quis dizer. Quando você sabe o que vai passar muita gente não quer. Aí, não quero saber porque se eu souber não vou em frente”, disse uma delas.

“Se a gente soubesse que ia ter esse problema, como mãe a gente ia ter o filho, ia pagar pra ver, mas acho que muita gente desistiria. Por exemplo: eu vou engravidar, aí se tivesse uma certeza, se você engravidar hoje seu filho vai nascer com microcefalia. Acho que muitas mães desistiriam. E se fosse pai com certeza, 50% desistiriam, nem enfrentavam o desafio”, começa uma mãe. “100% deles”, ri outra. “90%”, estima uma terceira.

A liberdade de falar sobre assuntos que poderiam ser reprovados por quem não vive o desafio da microcefalia ajuda, mas a oportunidade de trocar informações com outras mães é o maior benefício, segundo as participantes. O que as feministas chamam de sororidade, a cooperação e o apoio entre mulheres, é expresso na troca de dicas e dúvidas sobre o tratamento e o desenvolvimento dos filhos.

“O que me ajuda na minha rotina é a conversa, saber de outras mães. O grupo de apoio me ajuda bastante, minha perseverança. Pensei em desistir, que não ia aguentar, e hoje estou aqui. Eu sigo em frente e cada dia é novo. Ver os outros bebês, ver o meu, principalmente, e ele precisa muito de mim. Tudo tem um significado para nós”, relata Ana Júlia Xavier de Araújo, de 18 anos, mãe de Anderson Gabriel, de 6 meses, e grávida de quatro meses.

Moradora de Glória do Goitá, no interior do estado, Ana Júlia aguarda exame para saber se o próximo filho tem a malformação. Ela teve os mesmos sintomas de suspeita de Zika que observou na gestação anterior.

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