domingo, 12 de junho de 2016

MICROCEFALIA O COMPROMISSO DA SOCIEDADE 2016


No mesmo espaço onde se encontram histórias de muito abandono, há também lições de amor e responsabilidade. Quando a pequena Vitória, de 7 meses, apareceu na sessão de terapia na FAV, foi recebida com afeto pela equipe e pelas outras famílias. A mãe, Kely Romualdo de Oliveira, 35 anos, observou em silêncio, com um sorriso discreto. Confundida com uma cuidadora, Kely contou ao grupo a novidade que há três dias havia mudado completamente sua vida: era a mãe adotiva da menina.

“Não sei nem explicar, é muito amor que eu senti por ela. Eu me apaixonei por Vitória. É como se ela tivesse saído de mim”, recorda a dona de casa, ao contar como foi o primeiro encontro das duas.
Ela e o marido, Josimar Pereira, 57 anos, já têm um filho de 15 anos. Decidiram aumentar a família e recorreram à adoção. “Não pude mais ter filho, e sempre quis adotar. Ficamos um ano na fila, mas o perfil era outro. Quando visitamos o abrigo, onde ela [Vitória] estava e a vi, não pensei em nada. Disse: é ela, é minha filha”, completa, antes das primeiras lágrimas pingarem.

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Kely de Oliveira e Josimar Pereira adotaram Vitória Arquivo pessoal
O casal conseguiu a autorização da Justiça para mudar o perfil e adotar uma criança com deficiência. Um mês depois, Vitória passou a fazer parte da família de Kely. “Meu filho, minha mãe, os filhos dele, a mãe dele. Quando a gente tirou a Vitória do abrigo fizeram uma festa para ela”, recorda.

De acordo com a dona de casa, nos primeiros dias, várias pessoas ajudaram nos cuidados com a menina. Agora, a maior parte da rotina é de responsabilidade dela. “Meu marido trabalha o dia inteiro. Como fica eu e ela, é bem mais tranquilo. Todo mundo da família já ama Vitória”.

Josimar é funcionário do Ministério da Fazenda no Recife. Na manhã da entrevista, havia conseguido uma folga para acompanhar, pela primeira vez, o tratamento da filha. “Não importa o dia nem a hora, a gente vai a hora que for necessário. Já que a gente assumiu esse compromisso, essa responsabilidade”.

Ambos garantem que não têm medo de encarar uma vida de dedicação a filha. “Uma criança precisa de muito amor e carinho, independentemente da condição em que ela esteja. Abandonar, acho que é um crime”, disse Josimar. A mãe também opina: “Eu diria paras mães que não tenham medo, não é uma coisa de outro mundo”.

Kely e Vitória ainda tiveram de enfrentar o preconceito. “Tinha gente que falou: 'Por que você vai adotar? Eu que não adotaria'.'Vai procurar trabalho?' Eu respondia: 'Quando você tem um filho, quando você tá grávida, você sabe como seu filho vai vir?' Não sabe se ele vai vir com saúde, se vem branco, preto, não é verdade? Pra mim é a mesma coisa. É a minha filha.diz esta mãe.

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