domingo, 12 de junho de 2016

MICROCEFALIA E O ABANDONO 2016

  Enquanto na sessão, parte das mães aposta que muitos homens não encarariam o desafio de cuidar de um filho com microcefalia, algumas delas vivenciam a ideia de criar um bebê sem a ajuda do marido,companheiro ou de uma pessoa mais próxima.

A segunda gravidez de Ana Júlia não impediu o marido de ir embora. A jovem não dá muitos detalhes da separação. Com tom de voz rígido e, até mesmo ríspido, Ana Júlia busca superar a perda. “Já pensei muito nisso e agora não quero saber. Não importa. Se Deus me deu meu filho, é porque tenho capacidade de cuidar dele. E se eu crio um eu crio dois”, decreta.

Fernanda Maria da Silva, de 19 anos, foi colocada para fora de casa pelo ex-marido quando estava grávida de sete meses de Isabela, que hoje tem meio ano de vida. Ela dependia financeiramente do ex-marido e parou de estudar quando se casou. A jovem voltou para a casa dos pais, e vive no local junto com sete dos 10 irmãos, além da filha.

Com maquiagem caprichada e um dos irmãos ao lado, Fernanda conta, de forma tímida, como enfrenta o cotidiano. “Ele [ex-marido] dá R$100 por mês, não dá para nada. Não consegui benefício do INSS para Isabela, porque já tenho um irmão deficiente morando comigo. O bom é que chegou doação”.

O companheiro de Maria Luíza saiu de casa depois que o casal recebeu o diagnóstico. De acordo com a dona de casa, ele hoje mora com uma garota de 17 anos, com quem mantém um relacionamento.Essa situação não é exclusiva de mães com bebês com microcefalia. Maria Luíza Ferreira de Macedo, 30 anos, também participa do grupo da terapia, mas a filha tem um outro tipo de malformação. Thayla Nayara, de 8 meses, tem lisencefalia (quando o cérebro é liso, ou seja, não apresenta as reentrâncias). Maria Luíza tem uma filha mais velha.

Maria Luíza cuida sozinha das duas meninas. Não tem como contar com a ajuda dos parentes, que moram em São Paulo, sua terra natal. O pouco apoio vem de um irmão que envia uma quantia mensalmente. A contribuição do pai de Thayla, segundo ela, não é suficiente. “Ele não pega a menina no colo. Quando chega dá mais carinho para a outra [filha, a mais velha], aí só faz olhar ela e pronto. Não pega ela, olha e pronto, vai embora. Traz uma lata de leite, uma fralda para ela, deixa e vai embora. Final de semana pega a outra, leva para brincar e depois traz de volta”, narra Thayla, que também recebe um benefício social em nome da filha.

Mesmo assim, a dona de casa não cogita cobrar do ex-marido uma atitude diferente. “Não vou obrigar a pegar ela, passear com ela. É a vontade dele. Machuca um pouco, não por mim, mas pela minha filha. Mas ela é pequena e não tem entendimento ainda. Mas quando ela crescer vou contar tudo pra ela, aí ela decide se perdoa ele ou não”.

Com Daniele Santos, 29 anos, mãe de Juan Pedro, de 4 meses, a separação ocorreu após o nascimento. “Foi meio estranho porque ele [o filho] era muito irritado, chorava muito. Meu marido também na época estava sem trabalhar, aí juntou uma coisa com a outra. De repente, ele [o pai] foi embora de casa e disse que era porque eu não estava dando atenção a ele”, lembra.

Daniele
Daniele conta com a ajuda dos vizinhos para cuidar de Juan Arquivo pessoal
“Ele não chegou a comentar nada, mas se isolava. Desejava muito um filho homem, então de repente aquele sonho [...] A mídia falava que podia ser que o menino não falasse, não andasse, então o choque foi maior para ele [o pai] do que para mim. Eu aceitei melhor do que ele”.

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Segundo Daniele, a história começa a ser revertida. “Depois que saiu as notícias, que ele viu que não era só o filho da gente, que viu os tratamentos, ele foi se apegando de novo ao bebê. Hoje, quando ele pode me acompanha em algumas terapias. A gente está separado, mas ele já aceita bem melhor o filho dele”.

Daniele conta com a ajuda dos vizinhos desde que Juan nasceu. “Como eu moro em uma comunidade pequena, todo mundo ficou mobilizado. Sempre tem alguém perguntando se queremos alguma coisa. Nos acolheram.

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